Afisa-PR

A questão da ALFASV

A realidade pode derrotar as expectativas otimistas

 

 

A questão da área livre de febre aftosa sem vacinação [ALFASV] sempre foi circundada por um politicismo (porém, no sentido figurado deste substantivo não há efeito desejado) com nítido viés eleitoral1, o qual expresso nas intervenções do passado e do presente do consórcio governista Beto & Borguetti & Ratinho — intervenções quase sempre reverberadas acriticamente pela imprensa estadual e apoiadas sem restrições pelo sindicalismo patronal, das cooperativas etc.

A manufatura dessas expectativas otimistas é facilmente demonstrada: o "maior anúncio para o agronegócio paranaense em 50 anos"; "conquista" de "uma espécie de passaporte para a produção paranaense"; ["Com certificação da febre aftosa, Paraná vai"] "acessar mercados que pagam mais pela carne"; ["Com fim da vacinação, indústrias de carne"] planejam "investimentos bilionários no Paraná", o "novo status sanitário" do estado "completa um ano e impulsiona investimentos bilionários" etc.

 

As expectativas otimistas ante a realidade 

Segundo a notícia PR registra crescimento tímido nas exportações após um ano de certificação sanitária (por Jorge de Sousa) de 28 de abril de 2022 da Gazeta do Povo, não houve o chamado "contágio positivo", visto o "tímido crescimento" até agora verificado depois de um ano da "certificação".

 

 

E é o próprio governo em turno que admite a redução na produção de carne bovina no estado, conforme a matéria Líder nacional em proteína animal, Paraná aumenta produção de frangos e suínos em 2021 da AEN de 16 de março de 2022: 

 

"Em carne bovina, houve redução no abate em todo o País e o Paraná seguiu a tendência, com 238,96 mil cabeças a menos em comparação a 2020, queda de 16,1%." e

"No Paraná, o número de cabeças bovinas abatidas em 2021 foi de pouco mais de 1,2 milhão, representando queda de 16% em relação ao ano anterior. Em volume de produção de carne, o Estado alcançou 308,7 mil toneladas, com redução de 14%. No Brasil, foram produzidas 7,408 milhões de toneladas de carne bovina, volume 5,3% menor que em 2020. Elas resultaram do abate de 27,5 milhões de cabeças, redução de 7,8% em relação ao ano anterior."

 

 

As "justificativas"

Para tentar "justificar" a "timidez dos 'resultados'" da ALFASV "transfere-se" o problema para os fatores endógenos (o aprofundamento da falida doutrina neoliberal destrói a renda de grande parte da população2) e exógenos (consequências da zoonose pandêmica causada pelo vírus SARS-CoV-2, da guerra por procuração do imperialismo atlanticista contra a Rússia etc.).

Ocorre que tanto os fatores endógenos como os exógenos tendem a se agravar, ou seja, com repercussão negativa sobre a ALFASV, notadamente, pela crise energética (aumento do preço do petróleo etc.) e alimentar (escalada da inflação, escassez de alimentos, escassez de fertilizantes etc.).

 

O não confiável e instável "fator sorte"

No exterior importantes países3 e 4 importadores de carne, atentos à complexidade e à volatilidade da geopolítica, adotam medidas relacionadas à segurança alimentar e à redução das importações de alimentos.

E neste estado o governo em turno parece apostar na "tese" de que "basta" apenas a indução de expectativas otimistas em torno dos "avanços" da ALFASV. Ocorre que é preciso ter uma certeza relativa (já que não se pode ter uma certeza absoluta) capaz de oferecer uma suficiente base objetiva que sustente a questão ALFASV no longo prazo. Trata-se de uma questão que exige subjetividades hábeis capazes de tomar medidas corretas ante o desenrolar das circunstâncias objetivas. No entanto, observamos que as condições objetivas (a realidade) vinculadas às questões cruciais tais como infraestrutura e saudável ambiente entre os fiscais agropecuários (QPA/CFDA) de linha de frente (que atualmente amargam uma real redução salarial de 36,56%), não são minimamente apreciadas pelo governo em turno. 

O fato objetivo é que a dependência continuada no não confiável e instável "fator sorte", na direção subjetiva equivocada, no desprezo da realidade etc., parece ser a "grande aposta" do status quo em turno; isso significa que a catástrofe tanto pode acontecer daqui a alguns anos (em grande parte graças ao "fator sorte") como nos próximos dias ou meses.  

 

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1  São reveladoras as últimas intervenções claramente politicistas do governo em turno em torno da ALFASV, conforme as notícias oficiais Com qualidade sanitária reconhecida, carne paranaense está competitiva, afirma secretário, Um ano após conquista sanitária, Paraná reúne mais condições para crescer, diz governador e Adapar completa 10 anos e já programa novos avanços em defesa sanitária no Paraná.

Veja a notícia Risco de fome ameaça 36% das famílias brasileiras, chegando a patamar recorde [Segundo a pesquisa da FGV Social, é a primeira vez, desde o início da série histórica em 2006, que a insegurança alimentar brasileira supera a média simples mundial] (por Fernanda Strickland) do Correio Braziliense de 25 de maio de 2022.

3 Conforme a notícia [tradução livre de computador] "Substituiremos as importações ao máximo possível": como a Rússia desenvolveu e continuará desenvolvendo sua produção doméstica (por Pedro Svetov) da RT de 16 de março de 2022:

 

[Tradução livre de computador] "De acordo com um estudo realizado por especialistas (...), ao longo dos anos do programa, as importações de carne suína à Rússia diminuíram quase dez vezes; carne bovina — 2,5 vezes; carne de aves — pela metade. Os produtos lácteos começaram a ser importados 20% a menos; legumes — 27% menos. Em termos físicos, de 2014 a 2020, as compras de alimentos no exterior diminuíram em um terço."

 

4 Conforme a notícia [tradução livre de computador] O crescente interesse da China faminta em "alimentos do futuro" e proteínas alternativas (por Genevieve Donnellon-May e Zhang Hongzhou) do The Diplomat de 4 de maio de 2022:

 

[Tradução livre de computador] "Parece que a opinião pública de Pequim sobre proteínas alternativas está começando a mudar. Em 6 de março, o presidente chinês Xi Jinping reforçou a importância da segurança alimentar durante a sessão de 2022 do 13º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Em seu discurso, ele encorajou as autoridades agrícolas a buscar fontes de proteína fora das indústrias tradicionais de carne para ajudar a proteger a disponibilidade de alimentos da China. Como parte disso, Xi instou as autoridades a criar proteína animal fermentada à base de plantas, cultivada em células, juntamente com fontes alimentares tradicionais, não apenas para garantir a disponibilidade de alimentos, mas também para proteger o meio ambiente. Ele também observou que a inovação é fundamental para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável da China."

 

Modificado em 4-6-2022 em 14:25

 

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