Afisa-PR

Opinião da Direx: o simples, viável e o complexo, inviável

Sem que os fiscais agropecuários tomem consciência da necessidade de se construir uma categoria para si, a CFDA/QPA não tem futuro em termos de valorização com justiça salarial

 

Direx 18

 

A complexidade do chamado APL (protocolo 18.062.538-0) construído e reivindicado pelo sindicalismo atuante na fiscalização agropecuária deste estado contrasta fortemente com a simplicidade reivindicatória(protocolo 15.529.558-9) desta Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR). Esta, tendo como eixo reivindicatório apenas a resolução do injusto desnível remuneratório (a única readequação que verdadeiramente interessa ao fiscal agropecuário em carreira própria) entre os valores dos subsídios inicial e final praticados na CFDA/QPA/Lei 17.187/2012.   

Ocorre que a simples e viável reivindicação desta Afisa-PR — que tinha viabilidade para resolver o injusto valor do subsídio de início, um problema crônico que impede o estado de formar um quadro de fiscais agropecuários suficiente, qualificado e permanente — nunca foi assumida pela maioria dos fiscais agropecuários em carreira própria.

Uma reivindicação simples e viável, que tinha condições de conquistar plena valorização com justiça salarial e capacidade de resolução tanto os problemas da categoria como do estado, mas desde que a maioria dos fiscais agropecuários deste estado em carreira própria tivessem tomado consciência e lutado coletivamente/radicalmente por ela. O governo de plantão, sem sofrer pressão reivindicatória mais séria, sequer deu satisfação ao protocolo 15.529.558-9. 

Desde 2012, uma ampla maioria de fiscais agropecuários abdicou da luta coletiva/radical pelo pleno desenvolvimento da sua carreira própria. Essa ampla maioria confiou (visto que foi capturada pelas outras racionalizações ideológicas criadas em torno da "salvacionista" ALFASV) na racionalização ideológica-"meritocrática" do "primeiro os ônus, depois os 'bônus'"; em bloco embarcou em canoa furada quando dissolveu o potencial reivindicatório da CFDA/QPA no balaio de gatos. Essa ampla maioria decidiu assim justamente em um período de absurdas adversidades, de selvageria neoliberal contra o serviço público estatutário "menos igual", onde reivindicações complexas e multíplices, envolvendo grandes contingentes, evidentemente, jamais serão aceitas pelo governo.

O complexo reivindicatório do sindicalismo contou com ampla adesão dos fiscais agropecuários em carreira própria, visto que era grande "a esperança da 'salvação de todas as carreiras' no 'salvacionista' pós-ALFASV" —, porém, justamente no pós-ALFASV, sem cerimônia foi rapidamente rejeitado e devolvido com encerramento das "negociações" pelo governo (apud ofício 316/2021).

 

 

O complexo reivindicatório do sindicalismo quando tentou "resolver os problemas de todas as carreiras", indiretamente, deflagrou outros potenciais problemas (identificados pelo próprio sindicalismo). Desta forma, ao mesmo tempo em nos parece que o anteprojeto de lei governista (protocolo 18.291.662-5) "nasceu" para inglês ver e que não irá muito longe, não se pode descartar (atenção!) que ele tramite até o final a fim de eliminar os prometidos "avanços" (é muito forte a tendência de que as instâncias — Seap, Sefa, Sepl, PGE, CPS... —, que têm o poder de definir a política salarial, não aceitem no âmbito da CFDA/QPA, p. ex., o enquadramento tardio e o aumento real dos subsídios) e manter (atenção!) todos os novos potenciais problemas.

Sem que os fiscais agropecuários (principalmente os das classes C e B) adquiram consciência da necessidade de se construir uma categoria para si; sem que atentem que as atuais táticas e estratégia são equivocadas e que precisam ser rapidamente substituídas; sem que percebam a inutilidade da racionalização ideológica-"meritocrática" do "primeiro os ônus, depois os 'bônus'"; sem que se conscientizem que não há "salvação" pela ALFASV etc., etc., a CFDA/QPA não tem futuro em termos de valorização com justiça salarial. Se nada mudar radicalmente, existe um longo passado pela frente, ainda mais turbulento, caso vinguem os novos problemas criados pelo anteprojeto de lei governista.

A tendência que verificamos, visto que lamentavelmente ampla maioria dos fiscais agropecuários em carreira própria não consegue entender a lógica política de desenvolvimento da CFDA/QPA (foi justamente para depois poder aplicar essa lógica política que lutamos por quase uma década pela transformação de cargos públicos/enquadramento), é de perpetuação do subdesenvolvimento da carreira própria/aprofundamento da desvalorização com injustiça salarial.

 

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