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Uma Europa agroecológica não é irrealista em termos de segurança alimentar

Um novo estudo do IDDRI usou o modelo agroecológico para verificar a redução da produtividade agrícola na Europa que resultaria da transição total para a produção de alimentos ambientalmente amigável

An agroecological Europe isn´t unrealistic in terms of safe food & A new Iddri study used the agroecological model to verify the reduction of agricultural productivity in Europe that would result from the total transition to environmentally friendly food production

  

A Europa ainda seria capaz de alimentar sua crescente população, mesmo se convertesse totalmente seu modelo convencional de produção de alimentos para práticas ambientalmente amigáveis, como a agricultura orgânica, sustenta o novo relatório An agroecological Europe in 2050: multifunctional agriculture for healthy eating do Institut du développement durable et des relations internationales (IDDRI).

 

 

Segundo a notícia European farms could grow green and still be able to feed population (por Rebecca Smithers) do The Guardian de 20 de fevereiro de 2019, uma semana após uma pesquisa ter revelado um acentuado declínio nas populações de insetos que tem sido associado ao uso de agrotóxicos, o estudo do IDDRI afirma que na Europa esses produtos químicos podem ser eliminados e a emissão de gases de efeito estufa radicalmente reduzida, pela adoção do modelo de agricultura agroecológica que não trará prejuízo à suficiente produção de alimentos para suprir sua crescente população.

A agroecologia é baseada nos ecossistemas naturais e usa conhecimento local para a produção de alimentos para aumentar como um todo a sustentabilidade do sistema agrícola. O estudo do IDDRI baseou-se no modelo agroecológico para verificar a redução da produtividade agrícola na Europa que resultaria da transição total para a produção de alimentos ambientalmente amigável.

 



As reduções, argumentam os autores desse estudo, poderiam ser mitigadas com a eliminação da competição por alimentos destinados aos animais — reorientando as dietas para proteínas baseadas em vegetais e para animais alimentados em áreas de pastagens — e longe de carne "branca" produzida com grãos. Mais da metade dos cereais e oleaginosas da União Europeia (UE) é destinada à alimentação animal. O estudo modela e projeta um futuro em que a produção de carne na Europa foi reduzida em 40%, com ênfase a uma maior redução da produção de suínos e frangos alimentados com grãos.

"A produção intensiva e [uso] faminta por agrotóxicos não é a única maneira de alimentar uma população em crescimento", disse Rob Percival, chefe da política de alimentos da Soil Association. "O estudo dos [sua implantação na Europa] 'dez anos para a agroecologia' mostra que a agricultura agroecológica e orgânica podem alimentar a Europa com uma dieta saudável, respondendo às mudanças climáticas, eliminando gradualmente os agrotóxicos e mantendo a biodiversidade vital". 


O estudo do IDDRI sugere que a agroecologia — uso dos princípios ecológicos na agricultura primeiro para só depois utilizar produtos químicos — apresenta uma maneira confiável de alimentar a população da Europa até 2050, porém, alerta que uma ação é necessária agora, sendo os próximos 10 anos críticos no engajamento da Europa nessa transição.

O projeto de lei agrícola que tramita no Parlamento do Reino Unido sequer faz menção à agroecologia, embora uma emenda elaborada por um grupo de parlamentares multipartidários tenha proposto que os agricultores agroecológicos recebam compensação financeira.

"A ideia de uma Europa inteiramente agroecológica é muitas vezes considerada irrealista em termos de segurança alimentar, porque a agroecologia, algumas vezes, significa menor rendimento", disse Percival. "Mas esse novo estudo mostra que, ao refocalizar dietas em torno de proteínas à base de vegetais e animais alimentados em áreas de pastagens, é possível uma Europa totalmente agroecológica".

Segundo a notícia do The Guardian, o estudo do IDDRI é publicado em paralelo com o lançamento no Reino Unido da "dieta de saúde planetária" da EAT-Lancet, que propõe uma mudança para uma dieta mais baseada em vegetais. O estudo agroecológico aborda preocupações semelhantes com uma maior ênfase à biodiversidade das terras agrícolas.

 

UE: Parlamento Europeu aprova relatório para reduzir o uso de agrotóxicos

Com base no release European Parliament votes on the implementation of the Directive on sustainable use of pesticides do Pesticide Action Network Europe (PAN Europe) de 12 de fevereiro de 2019, o Parlamento Europeu aprovou neste dia o relatório de iniciativa Report 30.1.2019 on the implementation of Directive 2009/128/EC on the sustainable use pesticides (2017/2284(INI)) que trata do cumprimento pelos Estados-membros de uma Diretiva da União Europeia (UE) relativa à utilização sustentável de agrotóxicos [Directive on the Sustainable Use of Pesticides (SUD)].

"Apesar da SUD, a venda de agrotóxicos não diminuiu em toda a Europa. Hoje (12), a aprovação desse relatório pelo Parlamento Europeu, é um passo na direção certa. O relatório repete as conclusões de algumas semanas atrás da comissão especial do Parlamento Europeu sobre agrotóxicos [European Parliament's Special Committee on pesticides (PEST)], incluindo a proibição do uso de agrotóxicos em áreas públicas e proteção de grupos vulneráveis. Além disso, o relatório é um alerta à Comissão Europeia, que precisa passar a fiscalizar os Estados-membros e adotar ações contra os que não cumprirem o SUD", disse Koen Hertoge da PAN Europe.

 

 

Henriette Christensen, assessora de políticas agrícolas do PAN Europe, acrescentou: "É o momento certo para esse relatório quando a UE reformula sua política agrícola comum [Common Agricultural Policy (CAP)]. Chegou o momento de integrar plenamente o SUD em todos os aspectos da CAP e tornar a redução e dependência de agrotóxicos como um dos indicadores de seu sucesso".

Em 2009, a UE adotou a Diretiva 2009/128/CE sobre a SUD. Segundo a PAN Europe, o cronograma da SUD foi muito claro desde o início: a partir de 2011, os Estados-membros deveriam implementá-lo, desenvolvendo os chamados planos nacionais de ação. Além disso, os Estados-membros deveriam criar sistemas para ajudar financeiramente e tecnicamente os agricultores na adoção de alternativas não químicas e práticas agroecológicas e, em 2013, os Estados-membros deveriam ter informado a Comissão Europeia como implementaram a gestão integrada de pragas, tornando-a obrigatória para os agricultores aplicarem o manejo integrado de pragas (MIP) a partir de janeiro de 2014.

O calendário previsto permitiu que o princípio do MIP se integrasse plenamente à CAP da UE, que foi reformada em 2013. Mas, segundo o release, o Tribunal de Contas (Court of Auditors) da UE criticou a falta de liderança da Comissão Europeia resultou no único aspecto obrigatório de MIP introduzido na reforma da CAP feita em 2013, sendo obrigatória a informação dos Estados-membros sobre o MIP e uso de produtos não químicos.  Segundo o release, como agravente, até à data do alerta do Tribunal de Contas, a Comissão Europeia não tem monitorizado se os Estados-membros podem mesmo aconselhar os agricultores sobre alternativas não químicas que permitem a redução e a dependência de agrotóxicos1.

A SUD também tinha estipulado que até 2014 a Comissão Europeia deveria ter preparado um relatório avaliando como os Estados-membros a implementavam. Este relatório foi publicado em 2017 com 3 anos de atraso.

O relatório de iniciativa aprovado na sessão plenária do Parlamento Europeu de 12 de fevereiro, segundo o PAN Europe, "pode ajudar a recuperar esse atraso", uma vez que inclui:

 

a) O destaque dos muitos problemas associados ao uso e dependência de agrotóxicos (por exemplo: resistência de pragas, alta dependência dos agricultores a insumos químicos e envenenamento da vida aquática), fazendo referência aos muitos estudos científicos contemporâneos entre o uso de agrotóxicos e o contínuo declínio da biodiversidade (aves, insetos, microbiologia do solo e outros organismos não-alvos);

b) Críticas aos Estados-membros pela sua falta de aplicação da Diretiva 2009/128/CE, em particular dos seus planos nacionais de ação [National Action Plans (NAP)] considerados "fracos e inconsistentes", e a sua falta de compromisso com o MIP, com apelos para que os Estados-membros incluam objetivos quantitativos claros e objetivos de redução anuais claramente definidos nos seus NAPs, com especial atenção aos possíveis efeitos sobre os insetos polinizadores e à promoção e aceitação de alternativas não químicas sustentáveis ​​e PPP de baixo risco (Low Risk Plant Protection Products), em consonância com os princípios do MIP;

c) Críticas à Comissão Europeia pelo atraso no cumprimento de prazos relativamente à obrigação de apresentação de relatórios sobre a implementação da SUD pelos Estados-membros, e apelo à Comissão a considerar todas as medidas para garantir a conformidade, incluindo eventuais processos por infração contra Estados-membros que não apliquem a Diretiva; e como parte desse apelo à Comissão e aos Estados-membros para que deixem de permitir a utilização de PPP em áreas utilizadas pelo público em geral ou por grupos vulneráveis e

d) Reconhecimento do importante papel que o MIP pode desempenhar (juntamente com a agricultura agroecológica e biológica) na redução significativa da utilização de agrotóxicos, apelando à Comissão e aos Estados-membros para que garantam uma melhor coerência da Diretiva e a sua aplicação com a legislação e políticas da UE relacionadas, nomeadamente as disposições da CAP e do Regulamento (CE) 1107/2009 e, em especial, a integração dos princípios do MIP como requisitos legais no âmbito da CAP, em conformidade com o artigo 14 da Diretiva.

 

Deputados da Itália aprovam proposta de uso responsável de agrotóxicos

Com base na notícia Camera, ok unanime mozione su stop pesticidi da ANSA de 26 de fevereiro de 2019, os deputados italianos aprovaram uma proposta de uso responsável de agrotóxicos e de apoio às práticas agrícolas sustentáveis.

A iniciativa de proibir o uso de agrotóxicos herbicidas e a promoção de alternativas orgânicas foi aprovada por unanimidade pelos deputados italianos. De acordo com o texto aprovado na Câmara, há o compromisso, entre outras coisas, de "fortalecer o sistema de fiscalização do uso correto de agrotóxicos na agricultura e o aumento dos controles sobre os produtos alimentares importados de países terceiros" para o qual seja possível demonstrar que foram tratados com glifosato acima do limite permitido na Europa, a fim de proteger processo de produção italiano para garantir elevados padrões de qualidade; que o monitoramento do nível de contaminação da água por agrotóxicos é homogênea em todo o território e que todas as regiões italianas tenham um plano de proteção da água capaz de garantir um alto nível de proteção da saúde humana, animal e ambiental.

Com essa medida, a Itália espera por "iniciativas para uma utilização mais responsável dos agrotóxicos", apoio às medidas que preconizem o uso de boas e sustentáveis práticas agrícolas e adoção de práticas úteis para revisão e melhoria do plano italiano de ação sobre a utilização sustentável de agrotóxicos.

  

 

 

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1 Embora o primeiro projeto de demonstração do Écophyto na França tenha provado que é possível 50% de redução na dependência de agrotóxicos, foi somente no ultimo 1º de fevereiro de 2018 que a França finalmente lançou um centro de recursos on-line para ajudar os agricultores franceses a eliminarem o uso do agrotóxico glifosato, incluindo um banco de dados de cerca de 50 alternativas ao seu uso documentadas e comprovadas.

 

Modificado em 20-4-2020 em 23:17

 

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11-2-2019 - News European Parliament & Europe is moving at a snail’s pace on pesticide innovation, say MEPs [Member states have failed to replace chemical pesticides with low-risk alternatives, says a report to be put to the vote on Tuesday]

30-1-2019 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & UE: como os MEPs do Parlamento Europeu lidam com os agrotóxicos [Por outro lado, na Câmara dos Deputados tramita o amplamente criticado pacote do veneno & EU: How MEPs in the European Parliament deal with pesticides & On the other hand, in the Chamber of brazilians deputies is being voted the widely criticized package of the poison]

20-1-2019 - The Guardian & European farms could grow green and still be able to feed population [Research shows loss in yields could be offset by reorienting diets away from grain-fed meat]

2019 - Soil Association & IDDRI report: Ten Years for Agroecology in Europe [An organically farmed Europe can feed a growing population a healthy diet]

9-11-2018 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & O relatório da ONU contra os agrotóxicos não pode ser esquecido ["Usar mais agrotóxicos não tem nada a ver com a eliminação da fome. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), somos capazes de alimentar 9 bilhões de pessoas hoje. A produção está definitivamente aumentando, mas o problema é a pobreza, a desigualdade e a distribuição [de alimentos]". — Hilal Elver, relatora especial da ONU sobre o direito à alimentação & The UN report against pesticides can't be forgotten & "Using more pesticides has nothing to do with the elimination of hunger. According to the United Nations Food and Agriculture Organization (FAO), we're able to feed 9 billion people today. The production is definitely increasing, but the problem is poverty, inequality and distribution [of food]". — Hilal Elver, UN Special rapporteur on the right to food]

21-10-2018 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & União Europeia (UE): Eurostat revela quais países do Bloco consomem mais agrotóxicos [Espanha, França, Itália e Alemanha estão entre os maiores consumidores de agrotóxicos; eurodeputado francês rejeita e denuncia lobby e vice-campeã do consumo, França fracassa na sua tentativa de reduzir o uso de agrotóxicos & European Union (EU): Eurostat reveals which bloc countries consume more pesticides & Spain, France, Italy and Germany are between the largest consumers of pesticides; euro french deputy rejects and denounces lobbying and runner of consumption, France fails in its attempt to reduce the use of pesticides]

7-3-2017 - The Guardian & UN experts denounce 'myth' pesticides are necessary to feed the world [Report warns of catastrophic consequences and blames manufacturers for 'systematic denial of harms' and 'unethical marketing tactics'.The idea that pesticides are essential to feed a fast-growing global population is a myth, according to UN food and pollution experts. A new report, being presented to the UN human rights council on Wednesday, is severely critical of the global corporations that manufacture pesticides, accusing them of the “systematic denial of harms”, “aggressive, unethical marketing tactics” and heavy lobbying of governments which has “obstructed reforms and paralysed global pesticide restrictions."]

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