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EUA: teste positivo para a bactéria E. coli provoca recall de carne

Segurança alimentar: em New Jersey, EUA, um frigorífico recolheu mais de 1.600 quilos de carne bovina devido à nociva bactéria Escherichia coli

 

Com base na notícia Positive test result for E. coli spurs beef recall da Food Safety News de 14 de junho de 2016, em Newark, New Jersey, uma frigorífico recolheu mais de 1.600 quilos de carne bovina devido à nociva bactéria Escherichia coli.

A carne foi produzida no início de junho e foi enviada para varejistas em Nova Jersey e Nova York. Toda a carne recolhida foi  marcada com um número de identificação.

O Food Safety and Inspection Service (FSIS) do U. S. Department of Agriculture (USDA) e o frigorífico envolvido estão preocupados com a carne que pode estar nos congeladores dos consumidores, de acordo com o aviso de recall. Os consumidores que compraram a carne contaminada são alertados a não consumi-la e que deve ser jogada fora ou devolvida ao local de compra.

Não se pode observar a contaminação da carne e outros alimentos pela bactéria E. Coli. A carne e outros alimentos contaminados também não exalam cheiro ruim. 

A E. coli é uma bactéria potencialmente mortal e causadora de doenças, como infecções urinárias, diarreia e colite hemorrágica. Os sintomas aparecem de dois a oito dias após a contaminação.

Enquanto a maioria das pessoas se recupera dentro de uma semana, algumas podem desenvolver um tipo de insuficiência renal chamada síndrome hemolítico-urêmica. Essa condição pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, mas é mais comum em crianças com menos de 5 anos de idade e adultos mais velhos. A síndrome se manifesta por fácil formação de nódoas negras na pele, palidez e diminuição da produção de urina. As pessoas que sentem esses sintomas devem procurar urgente atendimento médico.

 

As DTAs e a privatização da fiscalização pública de produtos de origem animal

Para a Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR), os recalls de alimentos que envovem doenças transmitidas pelos alimentos (DTAs), causam preocupação. Os EUA são um país onde há "modelos" preconizados pelo USDA que visam privatizar a fiscalização pública de produtos de origem animal.

No Brasil, tramita na Câmara dos Deputados o PL 334/2015 de autoria do deputado federal Marco Tebaldi (PSDB/SC) que transfere a responsabilidade da fiscalização pública de produtos de origem animal dos fiscais agropecuários para emprgados funcionários contratados e remunerados (credenciamento privado) pelos próprios frigoríficos.

 

Segurança alimentar nos EUA: um aumento dramático no número de recalls entre 2013 e 2017

Segundo a notícia How safe is our food? [Recent trends and case studies of recalls, and what they mean for our health] do United States Public Interest Research Group Education Fund (U. S. Pirg Education Fund), a população dos EUA conta com uma vasta rede de fazendas e empresas para fornecer diariamente alimentos seguros, porém  nos últimos anos, uma série de significativos recalls, desde alfaces e biscoitos até milhões de quilos de carne bovina, colocaram em questão o sistema desse país desenvolvido para garantir que alimentos seguros cheguem às mesas das pessoas. A onipresença da insegurança alimentar pode tornar as compras de supermercado em um jogo de roleta russa onde o que uma família tem para o jantar pode deixá-las seriamente doentes.

 

 

O relatório How safe is our food? da U. S. Pirg Education Fund, elaborado por Viveth Karthikeyan e Adam Garber, alerta que os sistemas de segurança alimentar dos EUA precisam sofrer mais melhorias. Em 2011, os EUA promoveram significativas atualizações no seu sistema de segurança alimentar, através da Food and Modernization Act (FSMA) – lei de modernização da segurança alimentar - da Food and Drug Administration (FDA). Essa lei, aprovada em decorrência de vários e significativos recalls de alimentos, deveria ajudar o país na identificação de  perigos adicionais; assegurar o uso de técnicas modernas para rastreamento dos surtos de contaminação, como Salmonella e cepas perigosas de Escherichia coli; melhorar a  supervisão regulatória do sistema de produção de alimentos para minimizar a contaminação e atualizar as leis de recalls

Nos EUA seu sistema de segurança alimentar possui duas linhas de defesa: primeiro, uma série de proteções, incluindo padrões de saúde e fiscalização governamental, ajudam a manter os alimentos livres dos agentes contaminantes; segundo, quando alimentos contaminados chegam às prateleiras dos supermercados, o sistema de recalls ajuda a removê-los para que as pessoas sejam mantidas seguras. No entanto, o relatório em questão mostra um aumento dramático no número de recalls nos EUA entre 2013 e 2017.

Os centros para controle e prevenção de doenças dos EUA estimam que 1 em cada 6 pessoas adoeçam devido às doenças transmitidas por alimentos (DTAs), com 128.000 pessoas hospitalizadas e 3.000 mortes por ano. Estas infecções incluem intoxicações por E. coli e Salmonella, ClostridiumCampylobacter  e Toxoplasma gondii. Nos EUA o risco cumulativo para a saúde pública de DTAs justifica um estudo mais aprofundado sobre causas e soluções.

Os crescentes e significativos recalls de alimentos nos EUA, obviamente, levantam preocupações sobre a eficácia das suas atuais políticas públicas de segurança alimentar. Além disso, o sistema atualmente vigente é complicado devido à divisão da responsabilidade primária em diferentes alimentos entre o Food Safety and Inspection Service (FSIS) & USDA e a FDA. Segundo a notícia, essa divisão causa fiscalização inconsistente, coordenação ineficaz e uso ineficiente de recursos.

Como políticas de solução, o relatório em questão alerta que suas descobertas deixam claro que as defesas dos EUA em segurança alimentar precisam de uma atualização geral. As lacunas na proteção e da fiscalização de alimentos e de saúde pública tornam muito provável que os perigos cheguem aos alimentos consumidores pela população, com consequências potencialmente desastrosas. E quando os perigos são identificados por meio da análise de vetores de DTAs e impactos na saúde, o sistema de recalls dos EUA geralmente permite que os perigos continuem a afetar a saúde da população.

O relatório da U. S. Pirg Education Fund, entre outras recomendações, no âmbito da fiscalização e pública de produtos de origem animal,  recomenda como grande impulso ao sistema de segurança alimentar dos EUA: exigência na produção da carne da identificação dos seus patógenos mais comuns associados às DTAs e que estes sejam abordados em planos de segurança alimentar; estabelecimento de claras consequências contra recorrentes violações da legislação de segurança alimentar; atualização dos padrões de segurança alimentar nas fábricas de alimentos de três em três anos e declaração das cepas de Salmonella resistentes a antibióticos como adulterante em carnes.

A Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) adverte que a fiscalização pública de produtos de origem animal dos EUA, a cargo do USDA & FSIS, mediante da eufemística "necessidade de modernização", está em risco devido a uma intensa investida privaticionista. Os "modelos privaticionistas" dos governos Obama e Trump já foram severamente criticados por congressistas democratas, pelos fiscais agropecuários do USDA & FSIS e importantes entidades civis que atuam na defesa dos consumidores. Nos EUA, inclusive, os frigoríficos privatizados que "operam" com "autoinspeção" revelaram mais falhas na detecção de Salmonella na carne de frango.

Chama a atenção a similaridade dos "modelos privaticionistas" em detrimento da fiscalização pública de produtos de origem animal dos EUA com os textos dos projetos de leis (PL 334/2015 e PLS 326/2016) que também visam privatizar a fiscalização agropecuária pública do Brasil. Trata-se do binômico "credenciamento" das empresas privadas para que realizem "autoinspeção" privada em um "ambiente" passível de "auditoria" pública.

Mesmo diante das suspensões contra a carne impostas pelos EUA e pela União Europeia (UE), que não admitem importações de carne sob "inspeção" privada, o governo federal promete introduzir o "auto-controle nas inspeções em indústrias do setor agrícola, incluindo frigoríficos, em uma tentativa de modernizar os serviços de monitoramento de produção alimentos" do Brasil.

 

Food & Water Watch denuncia falhas na fiscalização do USDA/FSIS

Segundo a notícia "Inspected and Passed"? No, Despite What Labels Say do Food & Water Watch de 23 de janeiro de 2019, novos documentos obtidos pela Food & Water Watch com base na Lei de Liberdade de Informação (FOIA) dos EUA, revelam que em 2018 centenas de frigoríficos, incluindo dois envolvidos em recentes recalls anunciados pelo Food Safety Departmente of Agriculture (FSIS) do USDA, possuíam pessoal inadequado para as tarefas de fiscalização de produtos de origem animal. A grande maioria dos 6.400 frigoríficos listados pelo FSIS relatou tarefas não executadas de fiscalização em 2018.

As "inspeções de alimentos sofrem com o fechamento do governo. Mas, mesmo antes dessa paralisação, descobrimos que os frigoríficos apresentavam problemas significativos de pessoal e inspeções incompletas que podem ter contribuindo diretamente pela  introdução de produtos contaminados [na rede de] no suprimento de alimentos", alertou Wenonah Hauter, diretora executiva da Food & Water Watch.

 

 

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