Afisa-PR

No Reino Unido mais da metade dos frigoríficos apresentam violações de higiene e segurança alimentar

A dimensão dos problemas que envolvem a segurança alimentar e a higiene em grande parte dos frigoríficos processadores de carne do Reino Unido é revelada por uma nova análise, que mostra que mais de metade de todos os frigoríficos auditados tiveram nos últimos três anos pelo menos uma violação importante em segurança alimentar

In the United Kingdom over half the slaughterhouses feature violations of hygiene and food safety & The dimension of the problems involving food safety and hygiene in large part of slaughterhouses United Kingdom meat processors is revealed by a new analysis, which shows that more than half of all the slaughterhouses audited had in the last three years at least one violation important on food safety

  

A dimensão dos problemas que envolvem a segurança alimentar e a higiene em grande parte dos frigoríficos processadores de carne do Reino Unido é revelada por uma nova análise, que mostra que mais de metade de todos os frigoríficos auditados tiveram nos últimos três anos pelo menos uma violação “importante” em segurança alimentar, segundo a notícia Fear of meat scandal as data shows hygiene breaches at over half UK plants (por Andrew Wasley) do The Guardian de 23 de fevereiro de 2018.

 

 

 

Os números da fiscalização governamental efetuada pela Food Standards Agency (FSA) revelam que em todas as semanas entre 2014-2017 houve em média 16 grandes infrações contra a segurança alimentar da população, de acordo com uma análise de dados realizada [na terceira semana de fevereiro] pelo jornal The Guardian e pelo Bureau of Investigative Journalism.

Quase dois terços dos frigoríficos de corte de carne (540 de 890) auditados na Inglaterra, no País de Gales e na Irlanda do Norte, apresentaram pelo menos um caso de não cumprimento de normas de higiene ou de segurança alimentar. Vários frigoríficos tiveram múltiplas falhas, com 25 violações ocorrendo em plantas de abate de animais pertencentes a Russell Hume, o fornecedor de carne que está no centro de recentes preocupações sobre a higiene alimentar no Reino Unido. A Escócia tem um órgão governamental regulador (Food Standards Scotland - FSS) de inspeção de produtos de origem animal separado da FSA.

Segundo a definição da FSA, uma grande não conformidade é “susceptível de comprometer a saúde pública, incluindo a segurança alimentar ... ou pode levar à produção e ao manuseio de alimentos inseguros ou inadequados se não forem tomadas medidas corretivas”.

Entre o número total de falhas identificadas pelos fiscais governamentais da FSA no período analisado, houve 221 grandes descumprimentos relacionados à manutenção de controles legais de temperatura e mais de 300 referentes à minimização do risco de contaminação cruzada. Além disso, foram descobertas mais de 50 violações principais relacionadas à garantia de que os subprodutos de origem animal foram identificados corretamente e 26 conectados à rastreabilidade.

De acordo com a FSA, a contaminação cruzada ocorre quando as bactérias ou outros contaminantes se espalham entre os alimentos, superfícies e equipamentos e é uma das causas mais comuns de intoxicação alimentar. A rastreabilidade é um requisito legal para que os frigoríficos mantenham registros de negócios com seus fornecedores de animais.

As violações encontradas nas plantas de carne de Russell Hume relacionaram-se com múltiplos aspectos da produção, incluindo a manutenção de controles legais de temperatura, prevenção de contaminação cruzada, garantia de higiene ambiental e gerenciamento de sistemas de segurança alimentar.

As descobertas realizadas “levantam sérias dúvidas sobre o quão robusto é o sistema da FSA para monitorar a higiene dos alimentos”, disse o deputado Kerry McCarthy, que serviu como secretário “shadow” de Estado para o Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais até 2016.

“Esses números são verdadeiramente chocantes”, disse Kath Dalmeny, CEO do Campaign Group Sustain, ao jornal The Guardian. “É por isso que achei tão assustador que, durante a última década, o nosso governo reduziu os orçamentos para os órgãos que fiscalizam o nosso sistema alimentar, nossos serviços locais de higiene da carne, laboratórios de analistas públicos independentes e fiscais de padrões comerciais. [Autoridades governamentais] Eles obstinadamente insistem em perseguir a noção falha de que a regulação superficial [light touch] é  ​​suficientemente boa para a indústria da carne” [semelhantemente, em escala muito mais acentuada, com o que lamentavelmente ocorre no Brasil, em todas suas instâncias de fiscalização agropecuária sob responsabilidade do Poder Público!].

Ron Spellman, fiscal da inspeção de produtos de origem animal, com 30 anos de experiência e vice-secretário geral da European Association of Food and Meat Inspectors (EWFC)1, afirmou: “O que também creio ser preocupante é a atitude do frigorífico (...), eles culpam o trabalho da FSA sobre o problema do seu colapso. Parece não haver vontade de aceitar sua responsabilidade”.

Porém, o prof. Hugh Pennington, renomado especialista em bacteriologia, apontou que “as brechas generalizadas [são] obviamente são ruins, mas a detecção mostra que o [FSA governamental] sistema regulatório parece funcionar. No passado, os surtos ocorreram porque os [serviços oficiais] reguladores não estavam detectando as [de segurança alimentar] violações”.

Um porta-voz da FSA afirmou: “Realizamos milhares de auditorias e fiscalizações sem aviso prévio em frigoríficos por ano para verificar se os padrões de higiene alimentar estão sendo atendidos. As questões que podem representar um risco iminente ou grave para a saúde pública resultarão em ações de execução imediatas e robustas”. Ainda mais. “Apenas 2% dos frigoríficos apresentaram mais de duas não conformidades principais.  Cada auditoria avalia quase 50 critérios de diferentes de higiene e uma única questão pode resultar em múltiplas complicações maiores ou  menores (...). As questões de não cumprimento em maior ou menor grau detectadas através de nossas auditorias não significam necessariamente que uma empresa de alimentos receba um resultado global negativo (...)”.

Existe uma ansiedade crescente de que os problemas na indústria da carne possam ser mais amplos do que inicialmente se pensava. Quatro frigoríficos diferentes já retiraram do comércio lotes de carne, e a FSA também criou uma revisão nacional dos frigoríficos de processamento de carne. [Terceira semana de fevereiro] Esta semana, a FSA reuniu-se com os [meat industry heads] cabeças da indústria britânica da carne para discutir a situação, para uma discussão aparentemente “construtiva e envolvente”.

[21 de fevereiro] Na quarta-feira, na Câmara dos Comuns, o secretário de estado, Barry Gardiner, perguntou a Liam Fox, secretário de estado do comércio internacional, se ela sabia que a FSA recentemente havia detido grandes quantidades de carne [of out of date meat] com data de validade vencida em um frigorífico. Gardiner disse que a carne era de origem bovina da Irlanda e da América do Sul (!!) e que um dos frigoríficos envolvidos tinha sido implicado no escândalo de carne bovina irlandesa de 2013 e que já havia sido declarado culpado de fraude na rotulagem da carne.

“A falha nessa escala não pode ser atribuída apenas a alguns negócios desonestos que caem nas [falling through the cracks] “malhas da fiscalização”, disse [o deputado Kerry] McCarthy. “Os consumidores precisam ter confiança no sistema e precisam saber que as ações estão sendo tomadas contra os frigoríficos com grande incidência de descumprimentos”.

Enquanto as autoridades governamentais e os parlamentares do Reino Unido preocupam-se em aumentar a segurança alimentar da população, no Brasil...

Na contramão da necessidade da adoção de mais medidas governamentais capazes de preservar a segurança alimentar da população brasileira, tramitam na Câmara a privatização da inspeção (“autofiscalização” privada) de produtos de origem animal (projeto de lei 3342) e no Senado a privatização (pelo binômio “credenciamento” e “auditoria”) de toda a fiscalização agropecuária promovida pelo Poder Público2 e a sumária revogação do Decreto 5.741 de 2006 que organiza todo o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (projeto de lei 3364).

Certas autoridades governamentais e certos parlamentares, infelizmente, desinformadas sobre essa fundamental, estratégica e complexa atividade desenvolvida pelo Poder Público e claramente desvinculadas do interesse público, acham que podem privatizá-la para impor a “autofiscalização” privada. Diante dessa situação, a Afisa-PR manifestou duras críticas, respectivamente, via a carta 42 de 2016 e a carta 66 de 2016, contra os termos propostos pelos projetos de lei 334 e 326.

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1 Fiscais agropecuários do Paraná, por favor, acordem! Toda categoria profissional no serviço público que almeja pleno reconhecimento, valorização profissional e justiça remuneratória, em virtude dos serviços públicos que presta ao bem-estar da população, é solidamente congregada em associação de classe (como, p. ex., a Afisa-PR, EWFC etc.). Valorizem sua associação de classe!

2 Projeto de lei 334 de 2015; autor: Marco Tebaldi (PSDB-SC); Apresentação: 11/02/2015; Ementa: Altera o art. 4º da Lei nº 1283 de 18 de dezembro de 1.950, regulamentado pelo decreto nº 30.691 de 29 de março de 1952, que dispõe sobre a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal, e dá outras providências; Explicação da Ementa: Permite que Estados e Municípios realizem a inspeção sanitária de produtos de origem animal; Situação: Aguardando Parecer do Relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC); relator atual: Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

3 São obrigações institucionais da fiscalização agropecuária promovida pelo Poder Público (Decreto 5.741, art. 1º, § 3º, I, II, III, IV e V) a promoção da  vigilância e defesa sanitária vegetal; vigilância e defesa sanitária animal; inspeção e classificação de produtos de origem vegetal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico; inspeção e classificação de produtos de origem animal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico e fiscalização dos insumos e dos serviços usados nas atividades agropecuárias.

4 Projeto de lei do Senado 326 de 2016; autoria:  Dário Berger (PMDB-SC);  Natureza: Norma geral; Assunto: Econômico - agricultura, pecuária e abastecimento; Ementa e explicação da ementa: Institui a Política Nacional de Defesa Agropecuária; Explicação da Ementa: "Institui a Política Nacional de Defesa Agropecuária, com a finalidade de proteção do meio ambiente, da economia nacional e da saúde humana"; relator atual: Ronaldo Caiado (DEM-MT).

Modificado em 8-9-2020 em 06:04

 

Matéria vinculada:

26-10-2018 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & Segurança alimentar: alimentos inseguros custam US$ 110 bilhões por ano aos países de baixa e média renda [Estudo do Banco Mundial: seu economista agrícola líder e co-autor do estudo, Steven Jaffee, afirmou que os governos dos países de baixa e média renda — caso do Brasil, citado nesse estudo — precisam ser mais inteligentes para investir em segurança alimentar e monitorar o impacto das intervenções que fazem & Food security: Unsafe food costs US $110 billion per year to low and middle-income countries & World Bank Study: it´s leading agricultural economist and co-author, Steven Jaffee, said the governments of the low-and middle-income countries — the case of Brazil, cited in this study — need to be smarter to invest in food security and Monitor the impact of interventions that make]