Por Consuelo Garrastazu*

 

A sabedoria do velho ditado infelizmente pode ser aplicada. Depois da tragédia em Mariana os olhos do povo brasileiro, de entidades de defesa do meio ambiente e também dos políticos voltaram-se para um tema fundamental: fiscalização. Se tivesse havido fiscalização séria, efetiva, ética e a inspeção regular destas obras de tão grande monta, certamente o impacto não teria sido tão devastador.

Lamentavelmente é preciso que algo tão grave aconteça para que se olhe com mais atenção falhas como esta – que ocorrem em diferentes setores. Nós, fiscais federais agropecuários, imediatamente ao ver notícias que de que a falta de fiscalização resultou no rompimento da barragem, fizemos uma relação direta entre este episódio e a proposta de terceirização da inspeção de alimentos.

Fazendo a correlação, a proposta do Ministério da Agricultura (e de algumas secretarias estaduais de agricultura) é permitir que um veterinário que não faz parte do serviço oficial possa inspecionar os frigoríficos e agroindústrias. Alguém contratado pela própria empresa fazendo a análise e tendo que, em tese, barrar inconformidades. Um claro conflito ético. É mais ou menos como no caso da mineradora de Mariana. Na falta da presença de integrante do Departamento Nacional de Produção Mineral, deixaram a apresentação de laudos para a própria empresa Samarco. O quê esperar?

Nossa atividade está diretamente relacionada com a saúde pública, uma vez que mais de duzentas enfermidades podem ser transmitidas através dos alimentos. Só que muitas vezes o cidadão não relaciona o consumo de um produto sem inspeção a uma doença que aparece meses ou até anos depois, o que reduz as notificações. Entretanto, graças ao nosso trabalho e ao de fiscais estaduais também, evita-se que alimentos sem condições cheguem à mesa do consumidor.  Se não for dada a atenção necessária a esta questão e se interesses econômicos forem maiores do que a prevenção e a saúde da população, como na barragem, o estrago será  produzido ano após ano, culminando com o caos.

E se a questão da saúde não for suficiente para convencer lideranças e autoridades, temos também o mercado. Compradores internacionais exigem o olho do fiscal do serviço oficial nos produtos que adquirem. Qualquer problema verificado nas indústrias nacionais pode refletir na intenção dos mais de 160 países que importam produtos de origem animal brasileiros. Não queremos esperar que arrombem nossas portas para que adotemos medidas de prevenção. Queremos a valorização da atividade do fiscal federal agropecuário para continuar garantindo a segurança dos alimentos.

 

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* Fiscal federal agropecuária e delegada sindical do ANFFA Sindical do Rio Grande do Sul.

 

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