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Regulação de agrotóxicos: um país "modelo" para o Brasil?

Os EUA continuam a usar agrotóxicos nocivos que são proibidos em outros países, inclusive, pelo Brasil

  

Os EUA estão ficando para trás da China, do Brasil e da União Europeia (UE) na proibição de agrotóxicos nocivos, de acordo com um novo estudo do Center for Biological Diversity [Centro de Diversidade Biológica], conforme a notícia The US continues to use harmful pesticides that are banned in other countries (por Kay Vandette) do Earth de 6 de junho de 2019. 

 

 

Existem muitos estudos científicos (e várias medidas judiciais) nos EUA que mostram como os agrotóxicos afetam negativamente o meio ambiente e a saúde humana.

Pesquisadores do Center for Biological Diversity revisaram as regulações de agrotóxicos realizadas nos EUA, Brasil, China e UE para ver como o primeiro país citado se comportou na regulação de agrotóxicos nocivos. Os pesquisadores publicaram suas descobertas na revista Environmental Health.

Tido como um país "altamente regulamentador" e com a "proteção de agrotóxicos em ordem", esse estudo "contradiz essa narrativa e descobre que, de fato, nas últimas duas décadas, quase todos os cancelamentos de agrotóxicos nos EUA foram feitos voluntariamente pela sua indústria", alerta Nathan Donley, principal autor do estudo. 

Donley descobriu que 72 agrotóxicos proibidos ou em processo de eliminação na UE possuem autorização de uso e comércio nos EUA; no Brasil, 17 e na China, 11. 

Em 2016, dos agrotóxicos autorizados para uso na agricultura dos EUA, 322 milhões de quilos foram dos que já foram proibidos na UE; 26 milhões de quilos dos que já foram proibidos no Brasil e 40 milhões de quilos dos que já foram proibidos na China. Os agrotóxicos proibidos na UE representam mais de um quarto de todo o uso de agrotóxicos nos EUA. A maioria dos agrotóxicos proibidos, em pelo menos dois desses três países, nos últimos 25 anos nos EUA, não tiveram seus usos consideravelmente diminuídos e quase todos, nos últimos 10 anos, permaneceram em níveis de consumo inalterados ou com viés de aumento. No geral, Donley calculou que mais de dez 10% do total de agrotóxicos usados nos EUA são originários de agrotóxicos proibidos ou eliminados na UE, Brasil e China.

O estudo revelou que a proibição da maioria dos agrotóxicos nos EUA — ou por cancelamento de uso/comércio ou por regulamentação de proteção ambiental — foi feita voluntariamente pela indústria (e não pelo governo dos EUA).

Desde 1970, dos 134 agrotóxicos que tiveram suas autorizações de uso/comércio canceladas, 97 foram cancelados pela indústria. Desde 1970, a Environmental Protection Agency (EPA) [Agência de Proteção Ambiental] cancelou o uso/comércio de apenas 37 agrotóxicos.

Ao longo dos últimos anos, aumentaram os cancelamentos voluntários (por parte da indústria) de agrotóxicos nos EUA ao mesmo tempo em que caíram significativamente os cancelamentos por iniciativa da EPA.

"Essas descobertas sugerem que os EUA utilizam o cancelamento voluntário, adotado por iniciativa da indústria, como o principal método de proibição de agrotóxicos, o que é diferente dos cancelamentos/proibições não voluntários iniciados pelos [do governo] reguladores e que são predominantes na UE, Brasil e China", disse Donley

Segundo a notícia, "a menos que a EPA faça mais" para proibir agrotóxicos nocivos, "não apenas podemos esperar um aumento dos processos relacionados ao uso perigoso de agrotóxicos, mas também declínios de habitats e biodiversidade".

Para Donley, "sem uma mudança" na EPA no seu sistema de "cancelamentos voluntários" de agrotóxicos, "os EUA provavelmente continuarão atrás de outros países na proibição de agrotóxicos nocivos".

 

 

 

EUA: a EPA "falhou com o público americano" na regulação do glifosato, diz advogado

 

 

Caso glifosato: ação para "ocultar" notícias negativas, "minar o trabalho" dos críticos etc.

Segundo a notícia Monsanto pagou o Google para 'esconder' notícias negativas, diz jornal (por Redação Hypeness) da Hypeness de 9 de agosto de 2019, "a Gigante dos agrotóxicos e acusada de contribuir para o aumento de casos de câncer, a Monsanto pagou o Google para omitir notícias negativas a seu respeito. Segundo o  The Guardian, a companhia mirou jornalistas, ativistas e até o cantor Neil Young".

Carey Gillam, repórter da Reuters, "entrou no radar dos executivos do alto escalão depois de matéria investigativa e um livro sobre os impactos na saúde dos produtos vendidos pela Monsanto. Gillam é autora de 'Whitewash: The Story of a Weed Killer, Cancer, and the Corruption of Science'lançado em 2017". 

Ainda, de acordo com a Hypeness, "Diante da crise de imagem, a Monsanto fez o que estava ao alcance para minar o trabalho da jornalista, incluindo um acordo financeiro com o maior buscador do mundo, o Google". 

"A companhia controlada pela alemã Bayer adotou métodos de inteligência utilizados pelo FBI contra o terrorismo. O 'centro de fusão' monitorou organizações alimentícias sem fins lucrativos e os diretores da Reuters."

Feita com base em documentos internos, a notícia Revealed: how Monsanto's 'intelligence center' targeted journalists and activists (por Sam Levin) do The Guardian de 8 de agosto de 2019, revela que a Monsanto "operou um 'centro de combinação de inteligência' para monitorar e desacreditar jornalistas e ativistas" e "teve como alvo" a repórter Carey Gillam que escreveu um crítico livro.

Os documentos internos revisados ​​pelo The Guardian revelam que a Monsanto "adotou uma estratégia multifacetada para atacar" Carey Gillam, uma jornalista da Reuters que investiga as ligações do agrotóxico glifosato com o câncer em pessoas. A Monsanto, agora pertencente à multinacional  farmacêutica Bayer, segundo o The Guardian, "também monitorou uma organização de pesquisa de alimentos sem fins lucrativos" através desse seu "centro de combinação de inteligência", um termo que o FBI dos EUA e outras agências de segurança usam para operações específicas em vigilância e terrorismo.

Os documentos revisados pelo The Guardian, principalmente os emitidos entre os anos de 2015 a 2017, foram divulgados como parte de uma batalha judicial em curso nos EUA que discute os riscos à saúde do agrotóxico Roundup. Esses documentos, segundo o The Guardian, relevam:

 

a) A Monsanto "planejou uma série de ações" para atacar um crítico livro de Gillam antes mesmo do seu lançamento; essas ações incluíam escritos de "pontos de discussão" para que "terceiros" pudessem criticá-lo e orientar "clientes da indústria de agrotóxicos e agricultores" sobre como publicar essas críticas negativas;

b) A Monsanto "pagou ao Google" para que este promovesse "'os resultados da pesquisa 'Monsanto Glifosato Carey Gillam'", com críticas contra o seu trabalho. Internamente, a equipe de relações públicas da Monsanto também discutiu como exercer "pressão sobre" a Reuters; os documentos internos relevam a discussão sobre como se poderia pressionar "com muita força" os editores de Gillam e esperava-se pela "sua transferência";

c) Os integrantes desse "centro de combinação de inteligência" da Monsanto "escreveram um longo relatório sobre o ativismo anti-Monsanto feito pelo cantor Neil Young, monitorando seu impacto nas mídias sociais", e "em um ponto a considerar" até mesmo "uma ação legal". Também foi monitorado a organização sem fins lucrativos US Right to Know (USRTK) com a "elaboração de relatórios semanais sobre as atividades on-line" dessa organização, e

d) Os empregados da Monsanto "repetidamente estavam preocupados com a divulgação de documentos" que envolviam seus vínculos financeiros com os cientistas que poderiam apoiá-los favoravelmente para "encobrir pesquisas" que não "faziam jus" à realidade.

 

 

Modificado em 21-1-2021 em 10:11

 

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10-8-2019 – Hypeness & Monsanto pagou o Google para 'esconder' notícias negativas, diz jornal [Gigante dos agrotóxicos e acusada de contribuir para o aumento de casos de câncer, a Monsanto pagou o Google para omitir notícias negativas a seu respeito. Segundo o  The Guardian, a companhia mirou jornalistas, ativistas e até o cantor Neil Young]

9-8-2019 - The Guardian & I'm a journalist. Monsanto built a step-by-step strategy to destroy my reputation [Company records show an action plan that includes promoting certain search results and targeting book reviews. As a journalist who has covered corporate America for more than 30 years, very little shocks me about the propaganda tactics companies often deploy. I know the pressure companies can and do bring to bear when trying to effect positive coverage and limit reporting they deem negative about their business practices and products. But when I recently received close to 50 pages of internal Monsanto communications about the company’s plans to target me and my reputation, I was shocked. (...)]

9-8-2019 - UOL & EUA não aprovará rótulos que digam que o glifosato causa câncer

8-8-2019 - The Guardian & Revealed: how Monsanto's 'intelligence center' targeted journalists and activists [Internal documents show how the company worked to discredit critics and investigated singer Neil Young. Monsanto operated a “fusion center” to monitor and discredit journalists and activists, and targeted a reporter who wrote a critical book on the company, documents reveal. The agrochemical corporation also investigated the singer Neil Young and wrote an internal memo on his social media activity and music. The records reviewed by the Guardian show Monsanto adopted a multi-pronged strategy to target Carey Gillam, a Reuters journalist who investigated the company’s weedkiller and its links to cancer. Monsanto, now owned by the German pharmaceutical corporation Bayer, also monitored a not-for-profit food research organization through its “intelligence fusion center”, a term that the FBI and other law enforcement agencies use for operations focused on surveillance and terrorism. The documents, mostly from 2015 to 2017, were disclosed as part of an ongoing court battle on the health hazards of the company’s Roundup weedkiller. They show: (...)]

28-6-2019 - Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) & Parecer Técnico sobre processo de reavaliação do ingrediente ativo de agrotóxico glifosato [Desde 2008 o ingrediente ativo de agrotóxico glifosato está em revisão de registro na Anvisa, por conta de efeitos sobre a saúde das pessoas. Utilizado como herbicida, ou seja, para aniquilar plantas "indesejáveis", é o agrotóxico mais usado no Brasil em especial nas lavouras transgênicas, modificadas geneticamente para desenvolverem tolerância e suportarem pulverizações com essa substância. Pesquisadores do Grupo Temático de Saúde e Ambiente da Abrasco redigiram um Parecer Técnico sobre processo de reavaliação do ingrediente ativo de agrotóxico glifosato utilizado na agricultura e como produto domissanitário]

6-6-2019 - Earth & The US continues to use harmful pesticides that are banned in other countries [The US is lagging behind China, Brazil, and the European Union in banning harmful pesticides, according to new research]

19-5-2019 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & Opinião da Direx: agrotóxico e 'ausência de critérios maléficos'... não há novidade... [Será mesmo?]

9-11-2018 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & O relatório da ONU contra os agrotóxicos não pode ser esquecido ["Usar mais agrotóxicos não tem nada a ver com a eliminação da fome. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), somos capazes de alimentar 9 bilhões de pessoas hoje. A produção está definitivamente aumentando, mas o problema é a pobreza, a desigualdade e a distribuição [de alimentos]". — Hilal Elver, relatora especial da ONU sobre o direito à alimentação & The UN report against pesticides can't be forgotten & "Using more pesticides has nothing to do with the elimination of hunger. According to the United Nations Food and Agriculture Organization (FAO), we're able to feed 9 billion people today. The production is definitely increasing, but the problem is poverty, inequality and distribution [of food]". — Hilal Elver, UN Special rapporteur on the right to food]

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