Afisa-PR

EUA: diretora da Food Integrity Campaign crítica a privatização da fiscalização pública de produtos de origem animal

"Vamos ser apenas claros sobre isso. O novo modelo de inspeção de carne suína não é modernização; trata-se de privatização". (Amanda Hitt, diretora do Food Integrity Campaign)

  

A Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR), com base na notícia USDA, confusing modernization with privatization? do Food Integrity Campaign1 de 22 de abril de 2016, em tradução livre, expõe os alertas contra a privatização da fiscalização pública da carne feitos pela sua diretoria, Amanda Hitt:

 

Vamos ser apenas claros sobre isso. O novo modelo de inspeção de carne suína não é modernização; trata-se de privatização. Recentemente, o assessor da Secretary for Food Safety do U. S. Department of Agriculture, Alfred Almanza, parece que tem muito a dizer sobre a modernização do sistema de inspeção preconizado pelo USDA. Pelo que tenho lido, parece que o Sr. Almanza pretende expandir o modelo de inspeção de alta velocidade usado em aves para os suínos. Ele divulga o sistema de inspeção de alta velocidade como “moderno” e que produz uma maior eficiência no local de trabalho, mesmo declarando publicamente (mais de uma vez) que há “melhora nos resultados de saúde pública”. Mas o que ele não diz é que esta eficácia apresenta um preço: um preço pago pelos trabalhadores, animais e meio ambiente. E que há preocupações de saúde pública que não foram abordadas e que são associadas a este novo modelo de inspeção.

 

 

 

O que o Sr. Almanza considera uma solução moderna é um presente para a indústria pelo aumento da quantidade de suínos abatidos, enquanto ao mesmo tempo há redução da inspeção do governo. Isto para mim não soa como uma boa ideia, e eu não sou a única a enxergar assim.

Centenas de milhares de consumidores, inúmeras ONGs, e até mesmo membros do Congresso têm falado em oposição à expansão do novo modelo de inspeção para a indústria de carne suína (incluindo o pedido da Hormel, que abandonou o programa em três plantas piloto de inspeção de alta velocidade). Estes variados grupos questionam a eficácia do [privaticionista] modelo de alta velocidade, mas apesar de todo o ceticismo, o USDA continua a venerar o [privaticionista] seu programa de inspeção de carne suína. Por quê? Porque o programa é um benefício para a indústria de carne suína, a qual o USDA está cada vez mais em dívida.

Eles estão dando as chaves do castelo. Isto é o dizem os fiscais do USDA que acompanham os programas piloto de inspeção de alta velocidade. Nessas plantas piloto, os fiscais altamente treinados do USDA perderam suas funções que foram  transferidas aos não treinados empregados da indústria. As velocidades aceleradas (1.300 carcaças de suínos por hora) tornam difícil a adequada inspeção das carcaças, e os consumidores sofrem as consequências.  Os fiscais do governo questionam a qualidade da carne que chegam às prateleiras dos supermercados, e eles também relatam que são muitas vezes impotentes diante dessa situação. Um fiscal disse à Food Integrity Campaign do Government Accountability Project (GAP)1 que as linhas de processamento “correm tão rápido que é impossível ver qualquer coisa nas carcaças”. Na verdade, alguns fiscais não irão comer a carne produzida nas plantas piloto de inspeção de alta velocidade.

[Como sustenta o USDA] Muito moderna - a inspeção de alta velocidade é bárbara. A unidade de lucro muitas vezes dificulta o julgamento humano, e a dura gestão da fábrica conduz rotineiramente os empregados e os animais. Um recente vídeo secreto mostra questões contra o bem-estar dos animais em uma planta de inspeção de alta velocidade, e isso torna claro o quão importante é a inspeção do governo. Quando os fiscais do governo estavam fora de vista, os animais foram maltratados. Além da supervisão, o grande volume de suínos processados nessas plantas piloto é uma receita para o desastre no local de trabalho. O “breakneck” (ritmo acelerado) nas linhas de inspeção de alta velocidade, com  movimentos repetitivos, resulta em incapacitantes acidentes de trabalho.

Caso o USDA deseja dar um toque de “modernidade” em seus velhos hábitos, ele deve tentar algo novo e diferente - como ouvir seus próprios fiscais. Os fiscais do USDA denunciantes têm uma longa lista de preocupações sobre o que acontece quando a indústria é autorizada a inspecionar a si mesma, e o público está prestando atenção. Deixar a indústria inspecionar a si mesma e permitir graves ameaças à integridade dos alimentos estão longe das exigências dos consumidores modernos. Na verdade, o nosso governo precisa apanhar rapidamente com os tempos atuais.

 

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1 O Government Accountability Project (GAP) foi criado nos EUA em satisfação aos vários denunciantes. Desde 1977, quando foi criado, o GAP tem servido como uma tábua de salvação para os funcionários públicos conscientes e os ajudou a liberar informações críticas que serve o interesse público e o bem comum. A missão do GAP é garantir governo e responsabilidade corporativa, avançando a liberdade de expressão ocupacional, exercer a defesa dos denunciantes e apresentar as preocupações que verificaram às autoridades competentes, grupos ou jornalistas. O GAP tornou-se não só uma proeminente organização de suporte aos denunciantes, mas também em uma importante organização governamental e de responsabilidade corporativa, tanto nacional como internacionalmente.

 

Afisa-PR

Não à aprovação do PL 334/2015

O alerta da Afisa-PR pela preservação do interesse público e da saúde e da segurança alimentar da população

 

Afisa PR 16 JPEG

 

Os EUA, um país desenvolvido, enfrenta sérias dificuldades com o seu "modelo" privatizado de "inspeção" de produtos de origem animal que é imposto pelo USDA. No Brasil, sem muita discussão, vistoso lobby também pretende impor a privatização (terceirização e até mesmo quarteirização) contra a fiscalização pública de produtos de origem animal privatizada; a intenção é que os frigoríficos, através do "credenciamento privado", contratem e remunerem seus próprios "fiscais da carne".

O Brasil, infelizmente, é um país potencialmente perigoso à "simplificação", desregulamentação e privatização, ainda mais contra uma atividade fundamental e estratégica do serviço público que é a fiscalização de produtos de origem animal. Não obstante, tramita na Câmara dos Deputados o PL 334/2015 que intenciona privatizar a saúde pública e a segurança alimentar da população. O PL em qustão, para a Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR), é uma proposta que atenta contra o interesse público. 

Para a Afisa-PR, a fiscalização pública de produtos de origem animal tem que ser exclusivamente realizada por experientes e treinados fiscais agropecuários. Essa condição é de fundamental importância para um seguro abastecimento alimentar.

A privatização em questão, caso seja aprovada pela Câmara dos Deputados, colocará em risco o comércio interno e externo de produtos de origem animal do país.

 

Matérias vinculadas:

26-10-2018 - Associação dos Fiscais da Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Afisa-PR) & Segurança alimentar: alimentos inseguros custam US$ 110 bilhões por ano aos países de baixa e média renda [Estudo do Banco Mundial: seu economista agrícola líder e co-autor do estudo, Steven Jaffee, afirmou que os governos dos países de baixa e média renda — caso do Brasil, citado nesse estudo — precisam ser mais inteligentes para investir em segurança alimentar e monitorar o impacto das intervenções que fazem & Food security: Unsafe food costs US $110 billion per year to low and middle-income countries & World Bank Study: it´s leading agricultural economist and co-author, Steven Jaffee, said the governments of the low-and middle-income countries — the case of Brazil, cited in this study — need to be smarter to invest in food security and Monitor the impact of interventions that make]

22-4-2016 - Food Integrity Campaign & USDA, confusing modernization with privatization?

21-3-2016 - Public Health Newswire & USDA's Alfred Almanza: Spring forward with food safety! [Spring is finally here. That means more sun and warm weather, but also extra public health precautions — especially when it comes to keeping your food safe. Public Health Newswire caught up with U.S. Department of Agriculture Deputy Under Secretary for Food Safety Alfred Almanza to talk about the food safety-public health relationship, how food safety has changed over the years and how USDA is joining APHA during National Public Health Week]

16-11-2015 - Food Safety News & Retired USDA Inspectors Share Concerns About HIMP Project [Joe Ferguson says he just couldn't take it any longer. The former inspector for the U.S. Department of Agriculture’s (USDA) Food Safety and Inspection Service (FSIS) spent more than 23 years monitoring operations inside pork processing plants inspecting hog carcasses for signs of anything that could translate to a food safety problem, in particular hints of Salmonella contamination on the processing line. But Ferguson, who retired in September 2014, is now a so-called "whistleblower," joining forces with critics who say that a trial high-speed hog processing inspection program piloted by USDA is a food safety nightmare. Critics charge that the faster line speeds and fewer numbers of government inspectors on processing lines called for by the program result in carcasses flying by too fast for inspectors to spot signs of trouble. Five U.S. hog plants are participating in the USDA’s Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP) Inspection Models Project (HIMP), including three owned by, or contracted to supply, Hormel Foods Corporation]

 

 

11-5-2015 - Compassion Over Killing & Hormel: USDA-Approved High Speed Slaughter Hell